Espumante brasileiro de uva Niagara, é possível?
A uva Niagara é um produto regional de Jundiaí/SP e, recentemente, está em evidência à indicação geográfica que irá atestá-la a partir de uma mutação rosada e espontânea, proveniente do terroir local (vide a história de Aurélio Franzini, nos vinhedos de propriedade de Antônio Carbonari); e bem, ela é popularmente uma uva de mesa.
Por isso, quando pensamos em espumantes de qualidade, resultantes de uma uva dada como comum, torna-se curioso saber como isto seria possível, e se os resultados tornariam o produto realmente agradável ao paladar, qualitativo e icônico.
A resposta é sim. Ainda que seja relativamente recente a permissão nacional para o registro de espumantes feitos com uvas que não sejam viníferas.
Na Adega Beraldo di Cale, por exemplo, é possível provar a alquimia através dos espumantes produzidos há pelo menos uma década por lá, já que a Beraldo tem tarimba e vivência de pelo menos 40 anos.
A diferença é que para refinar e equilibrar a bebida a marca oferece à uva regional o mesmo tratamento que as viníferas teriam, e, por isso, o vinho base para espumantes, resultante das comuns, passa pelo método francês tradicional de dupla fermentação – Champenoise – e é esta segunda fermentação, decorrente nas próprias garrafas, capaz
de conferir à bebida uma perlage potente, porém delicada como se espera de bons espumantes e suas minúsculas e fartas borbulhas.
O acompanhamento enológico de Ariana Sgarioni e o crivo técnico de toda a equipe local faz grande diferença ao equilíbrio do produto final: desde o uso assertivo de leveduras selecionadas (e, neste caso, não indígenas) a um pé de cuba bem executado para prepará-las às nuances do meio.
Entre outros processos mais, está dado ao espumante muito mais controle na
fermentação e, como consequência, uma carbonatação provisionada, equilibrada, além de acentuar a riqueza nos compostos aromáticos que esta uva naturalmente oferece.
Desde então a comprovação na aceitação do público são facilitadas em terras quentes como as nossas. Já que a bebida final torna-se leve, de fácil degustação, harmonização variada e ainda flexível (pois é possível ir do Nature ao Brut com a mesma eficiência de vinificação).
Este espumante, em específico, harmoniza muito bem gelado, na praia, na beira da piscina, em cerimônias sociais, servido com cremes brancos, frutas frescas, chocolates amargos, tábuas de Parma e embutidos, queijos de maturação leve, pão-de-ló e doce de leite, macaron, cristalizados cítricos, e o que mais a patisserie ou a vontade permitirem.